quarta-feira, 25 de julho de 2012

Bullying: de vítima a agressor(''diário regional'')


Gordo, baixo, alto, com óculos, “nerd”. Qualquer característica diferente pode ser motivo para um tipo de violência que tem tomado as escolas, o temido bullying. Não existem números oficiais, segundo informou a Secretaria Estadual de Educação, pois cada unidade de ensino desenvolve trabalho específico para combater a prática.
A linha entre as brincadeiras de mau gosto e a prática é tênue, segundo a pedagoga Adelaide Rugno. “É necessário ficar muito atento para descobrir quando a brincadeira passa dos limites e começa a afetar quem sofre esse tipo de violência”, afirmou.
Segundo a especialista, as maneiras de combater o bullying no ambiente escolar são a prevenção e a observação. Adelaide, que atua no Colégio Iemano, em Diadema, citou como exemplo o trabalho desenvolvido na escola. “Aqui na instituição traçamos estratégias voltadas à orientação de alunos, funcionários e familiares para o enfrentamento desse tipo de violência no âmbito escolar. Qualquer mudança de comportamento já desperta nossa atenção e acompanhamos mais de perto o aluno”, pontuou.
Segundo a pedagoga, os motivos para que um aluno sofra bullying são os mais variados. Porém, existe um padrão dos que praticam o ato. “Geralmente são crianças cujos pais têm atitudes agressivas. Se o pequeno vive em um clima de desrespeito, pode passar de vítima em casa a agressora na escola”, afirmou.
O bullying traz sérias consequências, as mais comuns são depressão e a dificuldade de relacionar-se. Carlos (nome fictício a pedido da família), morador de São Bernardo, é uma das vítimas desse tipo de violência. “Quando era menor, vivia sendo derrubado. Todo mundo me chamava de gordo. Na hora de escolher os times para algum jogo, nunca era chamado”, afirmou o estudante, que hoje tem 12 anos.
Os pais de Carlos destacam as dificuldades de conseguir ajuda na própria instituição de ensino. “Todas as vezes que fui na escola, as funcionárias afirmavam que não passavam de brincadeiras entre os garotos, e que meu filho é quem tinha problemas porque vivia isolado”, afirmou o pai de Carlos. “Mudei meu filho de escola para ver se diminuíam os problemas. Coloquei ele para praticar arte marcial e fazer terapia. Porém, a situação só piorou com o tempo, até que meu filho foi ameaçado com objeto cortante. Só depois disso que consegui apoio de uma diretora com a cabeça um pouco mais aberta”, afirmou.
Combate ao problema
Para combater a violência no ambiente escolar, o governo do Estado lançou  a campanha Bullying, Curta outra ideia  e anunciou parceria com a iniciativa Chega de Bullying, do Facebook e do canal Cartoon Net­work. “Por meio dessa grande iniciativa de conscientização e de novas ações de prevenção ao bullying, nosso objetivo é dar maior abrangência ao trabalho que já vem sendo realizado com essa mesma finalidade na rede de ensino de São Paulo”, afirmou o secretário da Educação, Herman Voorwald.
Durante o lançamento do programa, o governador Geraldo Alckmin divulgou também a distribuição de uma cartilha sobre o tema para professores, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Pais devem ficar atentos a mudanças de comportamento dos filhos
Como descobrir se seu filho sofre bullying? Segundo a psicóloga Ana Maria Cardoso, algumas mudanças de comportamento, mesmo que sutis, ajudam a identificar o problema. “Algumas crianças ficam introvertidas e passam a se isolar. Crises de choro sem motivo aparente na hora de ir para a escola, ou até mesmo recusa em ir,  também são indícios de que algo não está bem”, afirmou.
Constatado o problema, não adianta se desesperar, nem colocar mais peso sobre os ombros da criança. “Converse com seu filho sem cobranças. Procure descobrir quem é o agressor e em quais circunstâncias ocorre a violência”, afirmou.
Segundo a especialista, é importante não instigar o pequeno a revidar. “Assim que tiver de posse das informações o pai deve procurar a escola, e explicar a situação. Outro ponto importante é mostrar ao filho que está ao seu lado”, destacou.
Caso a escola não tome atitude para resolver a questão, a psicóloga aconselha a mudar a criança de colégio, buscando uma instituição que desenvolva trabalho voltado à prevenção do bullying. “Em uma nova instituição a criança poderá encontrar outras com as quais tenha mais afinidade”, afirmou Ana, ao aconselhar  que o pequeno desenvolva outras atividades que lhe deem prazer. “Pode ser natação, judô, atletismo. O importante é que ele amplie seu círculo de amizades”, finalizou.
Instituições de ensino não percebem atos de violência considerados naturais

Alguns atos de violência praticados na escola não são percebidos pelos supervisores pedagógicos. Esse foi um dos resultados da pesquisa realizada por Michelly Rodrigues Esteves em seu mestrado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Michelly entrevistou nove supervisores pedagógicos e questionou as ações assumidas para o enfrentamento da violência. Informaram que cada uma das escolas busca estratégias próprias, como advertência verbal ou escrita, comunicação de pais ou responsáveis e, quando necessário, contato com o Conselho Tutelar, Guarda Municipal e até com a Promotoria Pública.
A pesquisadora ouviu dos supervisores, nas diferentes abordagens, referência à “necessidade primordial de que os pais sejam mais conscientes em relação aos filhos, participando mais ativamente da realidade escolar”.
Com relação às manifestações de violência, os supervisores geralmente limitam-se aos danos físicos e deixam de perceber determinados atos como violentos. “Grande parte dos supervisores referiu as discussões entre alunos, as quais envolvem professores, em determinadas situações. Porém, essas discussões foram relatadas como algo natural, justificável pelas divergências natas entre seres humanos ou, até mesmo, pela adolescência, fase do desenvolvimento em que os alunos se encontram”, pontuou.
Para enfrentar o bullying, a pesquisadora alerta que é necessário desde a intervenção em violências cotidianas vividas pelas escolas, a conscientização dos profissionais, dos familiares e da comunidade, até as políticas públicas educacionais, destacando a relevância da atuação em rede.


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